sábado, 4 de junho de 2016

SOMOS O RESULTADO DE NOSSA INCOMPREENSÃO

         


Encontrei o filme original de 51 em preto & branco num cebo de DVDs.

Ao assisti-lo hoje percebi que a história do alienígena Klaatu e seu robô Gort já não era tão espetacular assim como um dia fora para mim.

Eu devia ter 11 ou 12 anos naquele dia em Viamão, quando a tevê anunciou que a Sessão da Tarde passaria o filme.

Estava em êxtase. Aguardava o inicio do filme. Um eclipse solar aconteceria naquela tarde. Eu um sectário do estilo Ficção Científica assistiria o maior filme de Ficção Científica jamais filmado.

Então meu pai - que sofria de algum distúrbio nunca tratado - explodiu esbravejando em raiva pura feito uma transformação atômica.

Um Hulk que não ficava verde. Porem, demonstrava da mesma forma fúria, ódio, músculos, porrada, incompreensão, tristeza e dor.

Isto posto. Aos gritos decidiu que eu devia descer com ele para o Sítio para ajudá-lo no plantio de aipim e na colheita das laranjas.

Aquilo para mim fora terrível.

Não pelo trabalho em si, mas porque não assistiria então o maior filme de Ficção Científica jamais filmado.

E assim, naquela tarde, eu não assisti O DIA EM QUE A TERRA PAROU.

Eu enfrentei a terra e o sol e a indignação com uma enxada na mão e com sacas e sacas de laranja nas costas.

Isso ficou armazenado em algum lugar dentro de mim. Até hoje, ao rever o filme.

Eu era um garoto ingênuo, alienado e um pouco burro. Era como o robô Gort do Klaatu. Não entendia nada. Apenas obedecia.

Eu não conseguia enxergar que com minha idade meu pai enfrentara a segunda guerra mundial na Europa. Abandonara os estudos para trabalhar no campo. Cuidava da irmã e de outros.

Passara frio e fome enfrentara os lobos de sua infância.

E fora criado assim pelos tempos. E fora endurecido assim pela vida.

Para meu pai um garoto estendido num sofá assistindo tevê
com o tanto que havia para ser feito, como o plantio de aipim e a colheita das laranjas, no mínimo, não fazia sentido.

Aquém disso, nunca lhe ensinaram que uma criança não deveria ter calos nas mãos. Então, ele criou os seus próprios.

Entretando, hoje, ao finalizar o filme, ao olhar pela janela para o horizonte, com o dia curvando-se para a noite, me sinto em paz com o espírito generoso e equilibrado.

Por saber que tudo está bem, entre nós.


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