quarta-feira, 29 de junho de 2016

UM QUINTO POEMA SOPRA SILÊNCIO EM SUA DIREÇÃO.






Reclinado na poltrona da sala.
É tarde.
O verão apagou-se.


Tenho aqui
apenas o sonho
e a saudade de você.


Lá fora
chora uma chuva,
lembrando passados
que um dia fui eu.


Levantarei-me
desta poltrona
deixando meus sonhos
pelo chão.


Onde tenho
o meu pensamento?


Quero sorrir-te agora
e não posso.
Quero teu sorriso
e não tenho.


Ontem
foi um mau sonho
que alguém teve por mim.
Hoje, não sei.


Meu ser é a invisível curva
de sua ausência constante.
Minha consciência
de ter consciência de ti
é uma fonte de inspiração,
transpiração,
é você.


Apesar de uma
constelação de estrelas
reservadas
em meu interior,
tudo pouco importa.


Hoje murcharam
mais flores
do que ontem
em nosso jardim
de silêncio. 


domingo, 26 de junho de 2016

ABANDONEI O POEMA MIL VEZES E RETORNEI A ELE MIL E UMA






Invariavelmente me perguntam porque Poema?

Poema afinal é a forma mais curta e direta de dizer o que você quer dizer.

Em poucas linhas você diz tudo. Você expoe víceras e sentimentos imprimindo palavras. Não é para ser entendido. É para ser sentido. Como um quadro não pintado, mas escrito. 

Ou é algo assim. Ou eu não sei a resposta. Tanto faz. Já escrevo Poemas a mais de uma trinca de décadas.

É como essa frase-título, que é de um antigo poeta, o qual já não lembro mais o nome. Para mim ela diz tudo em apenas uma linha.

A arte escrita é capaz de estimular a consciência a partir da percepção, emoções e ideias. Afasta o marasmo e cria sentido.    

Eu era jovem ainda, e meu mundo também, quando o Mario Poeta me apresentou Arthur Rimbaud.

“Leve com você. Leia. Tome atenção. Ele é perigoso.”

Nas minhas mãos UMA TEMPORADA NO INFERNO E ILUMINAÇÕES.

O iconoclasta Rimbaud, o maior poeta rebelde de todos os tempos.

A estrela da literatura francesa que modificou a poesia no mundo, escrevendo somente até os 20 anos. O poeta maldito que inventou a prosa-poética. A última palavra do desespero. 

Aquele que fugiu para África e tornou-se andarilho, traficante de armas e mercador de escravos. E que, por fim, finaliza a sua caminhada, morrendo aos 37 anos, com uma perna amputada, negando que tenha sido o famoso Rimbaud, poeta da França.

Naquela noite fria de inverno, na Cidade Baixa, em POA, eu não imaginava que Rimbaud fosse tudo isso. Pura ignorância.

Ao princípio, era apenas um exercício. Escrevia silêncios, anotava o inexprimível. Captava vertigens. Depois, explicava os meus sofismas mágicos com a alucinação das palavras!”

“Detesto todos os ofícios. A mão na pena vale a mão no arado. Que séculos de mão. Não darei nunca a minha.”

“Uma noite, sentei a Beleza nos meu joelhos, e achei-a amarga, e injuriei-a.”

“Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. Preguei boas peças à loucura. E a primavera me trouxe o pavoroso riso do idiota.”

Frases desse calibre saltavam do livro contra mim. Devorei-o numa única noite. Li novamente, várias e várias vezes. Busquei por outras fontes e publicações. Li tudo que dele encontrei traduzido para o português. Ler em Francês? Não rola.    

Ele revelava uma escrita agressiva e surtada.

Uma angústia, uma dor, um grito, uma violência, um inconvencional, algo sofrido, desesperado e genial, que até então eu não havia conhecido.

Mario, amigo, museólogo e poeta, estava certo: Rimbaud era perigoso. Um “enfant terrible”.

Menos por sua vida errante, e mais por nos influenciar na beleza única da maldita verve poética.

Nos instigava a procurar o segredo. Assim como ele que desejava “...possuir a verdade numa alma e num corpo.”

Após isso, escrevi um caderno de poemas. PAISAGENS DE FOGO. Chupando deliberadamente um pouco do estilo difícil e inimitável de Rimbaud. O posfácio foi dedicado ao Rimbaud. Quanta pretensão.

Imprimi algumas cópias. Dei a vários amigos, e não fiquei com nenhuma para mim. Triste erro.

Quanto o porque dos Poemas?

Talvez seja mais fácil admitir que existem várias razões e não uma única. Talvez o acaso explique. Talvez o benefício da dúvida perdure. Não sabemos. Melhor do que questionar é afimar.

Hermenêutica a parte, fique com esse verso de Iluminações. Eu me retiro.

“É o repouso iluminado, nem febre nem langor, no leito ou no prado.  
É o amigo nem ardente nem débil. O amigo.
É a amada, nem atormentadora nem atormentada. A amada.
O ar e o mundo de modo algum buscados. A vida.
Era então isso? E o sono refresca.”


sábado, 25 de junho de 2016

LEVAMOS O QUE CONSEGUIMOS PEGAR



          


 














Invariavelmente penso nisso. 

O que fazer do que não estamos fazendo?

Penso na Arte. Mas a Arte nunca no vai nos tirar daqui.

Então penso em Laranjeiras, no Rio, naqueles belos dias amarelos de sol. 

Eu costumava gostar daquela caminhada de domingo por Laranjeiras, enquanto os anos vão passando sobre o óbito do tempo.

Às vezes fecho os olhos por instantes - eu acredito em viagem no tempo - então retorno lentamente...

De volta a Laranjeiras. 

Venho caminhando pelas Laranjeiras. O belo Parque Guinle as minhas costas. O sol se erguendo contra o lindo palacete neoclássico.

Atravesso a praça com os pombos em meio a sujeira, as barracas de flores, de livros, e os pivetes.

Escuto os barulhos do dia.      

Atravesso o Largo do Machado. Que não é do Assis é do machado de madeira do antigo açougue que ali existia.

Mais a direita, o Café Lamas, fundado há mais de um século, e frequentado pelo Niemeyer, Portinari, Manuel Bandeira, entre outros.

Mais a esquerda a Rua Paissandu, ornamentada com suas palmeiras-imperiais.

Sigo em direção ao aterro. O sol quente e úmido ofuscando os olhos, suando lágrimas pelo corpo.

Alcanço a praia do Flamengo. Corpos jogando futvôlei, outros exposto em demasia ao sol a pino.

Minhas pernas firmes trabalhando no calçadão. Minha higiene mental entre o vago e o pensamento.

Pego a direção da enseada de Botafogo. A bela vista do Pão de Açúcar, esplêndida a frente dos olhos.

A passos largos ganho o contorno da baía, os pequenos veleiros sujeitos a maré baixa.

Faço o retorno e enfrento o vento quente, além de milhares de carros zunindo seus motores poluídos contra mim.

Encontro o Belmonte em meio a barris de chope. Dois ou três chopes tirados na medida certa. O gelado daquilo garganta abaixo.

Permaneço em pé na calçada misturado aos cariocas discutindo o futebol de domingo.

Tudo está descrito na simplicidade da vida. Em sua linguagem visual. 

Retorno vagarosamente. Alcanço o Largo em direção a Marquesa de Santos.

Localizo o prédio onde moro, subo dois lances para o Play. Encontro meu filho brincando na piscina com seus amigos também brincado na piscina.

Seus pequenos olhos inocentes me alcançam.

Então sigo ao encontro dele e dou-lhe um beijo e um apertado abraço.

Isso tudo se dissipa como lembranças esquecidas num velho baú da eternidade.

Retorno ao agora. Onde o solstício chegou, e se foi.

Na noite mais longa do hemisfério Sul, pousou o inverno.

Que traga ventos fortes. Soprando todos os nossos sonhos na direção do possível.

E se assim não for, que não seja.

Afinal, logo, logo, a primavera nos brindará flores.


sábado, 18 de junho de 2016

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO MEU SER






Esmagado pela dor da angústia, amo em silêncio.

Afinal, pouco recebemos disso tudo, e um pouco disso tudo fica para depois. Ou já se foi.

Por onde anda o romancista, escritor, tcheco-comunista, Milan Kundera?

Há 30 anos eu lia A insustentável leveza do Ser

Seu trabalho mais popular. Acredito. Versa sobre a frágil natureza humana. Sobre o destino, o amor e a liberdade.

A vida como um rascunho de si mesma. Penso que seja algo assim.

Não afirmo que ele seja um grande escritor. Possivelmente eu não tenha capacidade para tal. Afirmo, sim, que gostava de sua escrita. De ler seus livros. De seu estilo literário.  

Li vários livros dele. Lembro de A Brincadeira, O Livro do Riso e do Esquecimento, A Imortalidade, A Vida está em outro lugar e a Identidade.

Esbarrei em algum lugar com a informação de que ele recentemente editou algo novo. Não Li. Quem sabe?

Seu estilo de escrita era meio prosa filosófica. 

Questionava. Fazia pensar. Inspirava. Ele bebia um pouco do estilo de Nietzsche. Calma, eu disse um pouco. Entretanto, fácil de ler. Longe das complexidades do mundo filosófico.

Já sabemos afinal que existem mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa...

Assim, ele erguia a filosofia e a literatura em um único e grande brinde.

Enigmático Milan Kundera.

Deixo você, neste sábado dormido, com uma de suas diversas e lindas frases.

“São precisamente as perguntas
para as quais não há respostas,
que marcam os limites
das possibilidades humanas
e que traçam
as fronteiras de nossa
existência”