sábado, 1 de julho de 2017

FÚRIA, RUFA FÚRIA!






Uma segunda-feira existente de dor.

Um campo vazio de sono.

Já tudo não é mais. Já foi. Partiu.

Fúria, rufa fúria!

Escuto minha pequena angústia latir
dessa janela perdida.

Onde foi que me deixaram? Todos se foram, eu fiquei?

Desalmado ando translúcido atrás de mim.

Busco o inexprimível,
esmago palavras atordoadas de dor,
fujo.

Fúria, rufa fúria!

Vejo pela pequena abertura que me permitem ver 
que tudo já não está no lugar.

Sono, dúvida, medo e dor, que mundo é esse que criei para mim?

Onde está o sol, o mar e as ondas? Os dias lindos 
que passavam lambendo meus cabelos, 
     afagando minha alma.

Permaneço aqui ouvindo passos na escuridão e 
aguardando o ataque final.

Fúria, rufa fúria!

O pobre lirismo dos loucos e abandonados não espera...


NO CAMPO DA MEMÓRIA ENQUANTO A FUGA PERMITIR




 

- veio a mim agora isso,
essa distorção da fuga, ou
essa memoria fulgaz, ou
esse pequeno e silencioso
desejo de me contar -

Duas décadas atrás, 
caminhava eu
pelas tardes nuviosas
da misteriosa Amsterdam.

Sobre seus diversos canais
e suas pontes sobre eles,
entre as milhares de bicicletas
escutando o trim-trim metálico
de suas buzinas.

Dos países baixos
é a Veneza do norte,
sob tamancos coloridos
esculpidos a mão e deixados
a vista daqueles que por ali
estão turistando.

O museu Van Gogh,
a casa museu de Rembrandt,
a casa de Anne Frank,
e as poucas tulipas negras
escondidas e encontradas
surpreendentemente.

A triste visão emblemática
dos corpos acabados,
fumados e picados
na Praça Dam.

Ovos pochê
e queijos Brie
ao café da manhã.

Cerveja Amstel pulse
apreciada na temperatura ambiente
ante os transeuntes e
a beira do rio Amstel.

O bairro da Luz Vermelha
e as portas de vidros
com suas mulheres nuas
fotos, gritaria, tapas e
o filme sacado e devolvido
à prostituta da porta de vidro.

E aquele chafariz de metal
em forma de pênis
alheio a tudo
jorrando água na praça.

O vigor de tudo aquilo
tão distante agora
quanto estou eu
de mim mesmo...