terça-feira, 20 de março de 2018

NOITES NEGRAS DE UM PRESENTE RECENTE & ESQUECIDO



*

Um presente
passado
um futuro
de anos atrás
um retorno, uma dialética
um escutar
de passos arrastados
um passar
de dias alongados
um amargar derrotas
um escutar
ventanias e desesperos
um leve grito
de tua ausência
& as andorinhas voam
para um mundo
distante
daqui


**

Eu abro um livro
e as palavras escorrem
pelo chão,
eu choro,
eu pingo estrelas
em meus olhos
para disfarçar a tristeza

mas não há
muito por fazer

então espero
por mais um dia
onde reiniciaremos a vida,
escondendo de nós
essa torrente
de relógios
esquecidos...


***

Às vezes me vejo
olhando o retrovisor: aquela
rua distante de Livramento,
o fogão a lenha na cozinha,
as tardes vagas
na Casa de Cultura Mario Quintana, 
a Lancheria do Parque,
a Portuguesa vendendo
castanhas em Moraes,
os pombos
do Largo do Machado,
a neve em Nova York,
as noites
no Little Darling...
e os poemas, os poemas
que deixei
em todos esses lugares
como barquinhos
de papel
navegando
pelo tempo...


****

O Sistema
executou Marielle
O mesmo dedo
que agora investiga o caso
puxou o gatilho?
É negra a noite lá fora
Neste faroeste urbano
roubaram o Sol do PSol
Segue Marielle
Cala Marielle
Morre Marielle
Tudo há de passar
Mas tua luta
há de ficar!
 


*****  

Um vento negro
dobra as esquinas
da tristeza onde
sopram passados
esquecidos por nós


Caminhando e cantando
nos perdemos da canção


Hoje tropecei em outro
pássaro morto
 

Amanhã já não sei
o que será


Triste Elle
que apagou Marielle
Apaguem a luz, vamos dormir,
Perdemos outra vez...