domingo, 15 de abril de 2018

EU VERSO O VERSO PRA TUA UTÓPIA




*
Um final de tarde
cor de abóbora
Um crepúsculo
angustiante
Uma criança grita lá fora
como um trovão que chora
E a noite dobra pra além
de lugar algum
E o tempo escorre
como lágrimas
em um rosto
E tudo é tomado
por um silêncio
que se afasta
lentamente
pelos prados
de outrora...
E nada, nada mais,
se sente presente
E por fim
a ausência
do sentido
toma conta
de tudo


*
Agora
que as horas
se foram,
restou o que?
O esquecimento
de se existir?
Um olhar
que me fita?
Teu semblante
eternizado
amanhã?
Nada disso,
porém as horas
as horas
essas
se foram


**

Não sou
de esquerda
não sou
de direita
não gosto
dos extremos
e não simpatizo
com o centro
minha posição política
é utópica
ser apolítico
ainda assim
respeito
teu lado
logo
respeite o meu
afinal
admiro o forte
mas torço
pelo fraco
enfim
atiro em todos
e morro
atirando
amém


***
O céu
está coberto
por um lençol de estrelas
lavadas por grossos pingos
de uma duvidosa chuva

Amanhã: mais
ou menos 1 dia?

Seja direita
seja esquerda
seja centro
não importa
nossa força abalada
momentaneamente
nunca desistirá de mostrar
resiliência e fé

e o que será
não deverá ser nada
diferente do que já é
ou fomos
ou somos

e continuaremos seguindo
dia após dia
desavisados e ingênuos
como sempre
daquilo
que nunca
poderia ter sido


****
Naqueles domingos
ao sul de um certo lugar
em que se fazia o Folar
em que o sol generosamente
dobrava para os girassóis
em que a Páscoa era Páscoa
o Coelhinho de pão de mel
e os Ovos recheados de amendoins
naqueles domingos na distante
Vila Ipiranga, Viamão
ou Sta Terezinha
naqueles domingos parados
pelo tempo
em volta da mesa
rodeados pelo amor
ao lado dela do pai e das irmãs
e aquecidos pela fé
naqueles domingos
onde seu sorriso
era o conforto
e a segurança
de uma vida inteira
aquele menino
aquela mãe
e aqueles domingos
que jamais retornarão e que
jamais serão esquecidos
aqueles domingos
aqueles


*****
Enquanto sou pouco
faço mais versos
Eu faço versos
para que a vida
seja mais
Eu verso mais
pelo pouco
que me encontro
Pois a angústia,
essa coisa
que explode
em concreto e ferro,
salva no peito
versos encerrados
em mim
Eu faço versos
para que leias versos,
para que possa
te encontrar
entre palavras,
para que
para ti
e para nós,
para que sejas
ou talvez não,
ou simplesmente
para que a vida
roubada
em um fulgaz poema
não possa limitar
a palavra que sonha