sexta-feira, 28 de abril de 2017

365 dias deste COTIDIANO NA NUVEM. Ou ainda, palavras voadoras que não sabem onde pousar!



  

Choram letras através das lágrimas dum teclado,
nesta incomível quasepoesia, enquanto as manhãs
enamoram e lambem os dias escoados.

Mais um verão se encerra. O Cotidiano na Nuvem 
marcha registrando sofismas, ensaios, dores, retratos, 
posts & poemas.

As horas vagas mastigam-se entre si.

O relógio deglutina seus ponteiros, que giram, giram 
e giram, em busca dum ritmo futuro.
Um ano vingado através das palavras, do cotidiano,
da disposição, da nuvem e do peito rasgado.

Um fosforo riscado, soprado pelo vento,
não apagará sonetos rasurados, contudo o revés
rastreia um árduo vazio.

Sobrevivo feito um trivial espectro cálido. 

Asfixiado, imprimo letras avulsas, testes da imaginação
e paixão pela frase. Sou um apaixonado por frases
que flutua por aí ao lado delas. Feito um sonhador
de oficio que sonha, entre hibiscos e poluição, um novo sonho
a cada nuvem cotidiana.

Um suingue pisciano ou um peso-pesado
carregando uma flor de lótus catada no lodo de sua alma?

Afinal, é no verso da vida que se encontra o inverso do ser.

É como tirar um band-aid duma velha ferida e,
a partir disso, deixar de ser o que se é
para ser outra coisa.

Enroupado, sonho. Larapiado, grito.
Desfaleço de banalidades. Porém não nos falta pegada.
Seria um Toulouse-Lautrec girando no copo seu absinto?

Danação, falta-me ajustes. Não aprendi a não passar do ponto.
Entretanto, menos ralo do que tragável, meu escapismo
literalmente vai do ventre ao túmulo, bem amarrado. 
Ou isso, ou uma boa e próxima frase enquanto afio o cálamo. Morô?

O século do exílio se foi. Vivemos agora a paródia do Blog.

Brilhamos no vazio imprimindo nosso patrimônio mental,
escanteando o embaraço e fomentando um bem bolado entre
o acaso e a arte, algo assim.

Como um falível suberói que vive para frente,
mas que compreende para trás. Rabiscando
ora aqui e ora ali algum irretocável
volume, presença e peso.

Falsificações autênticas, remédios, o pendor da personalidade,
a solidão, o desterro, as dores da travessia... tudo não passa
de formas alternativas de fuga, não é mesmo?

Qual é o protocolo de nossa culpa? Desista, as calças curtas
já não nos servem mais.

Somos hóspedes de nós mesmo, somos um susto constante,
uma cultura provisória, somos palavras voadoras
sem autorização de pouso.

Como um rato autodidata das letras, ambiguamente escrevo,
e sinto por tornar-me inoportuno, entretanto nunca pretendi
do poema nada além do poema.

Neste mundo de corrente elétrica, neste (des)prazer
da vacuidade, sigo rugindo de saudades daquela
linguagem poética menor que sugeria algo maior.

As palavras encadeadas e as frases bem feitas, para
meu delírio, não passam de um banquete regado
por um posicionamento tímido e uma risível
economia de propósito.

Eu tateio entre letras como quem segue vendado
uma procissão de fé, exercitando sonhos que
nos assolam de verdades.

Ainda assim, sigo dedilhando as teclas e perseguindo
um Cover perfeito dentro dum imaginário próprio
num loquaz reflexo narcisista.

Essa transitoriedade e angústia que nos move,
que nos empurra abismo acima, que nos catapulta
a vida fria das redes sociais
e ao silêncio infinito do teu toque.

Isto posto, te dou meu sorriso, algumas palavras
e um pouco mais, quiçá. Como nó desfeito
em verso em um olhar de incerteza.  

Ah, um tostão por um Verso!

Um Verso é tudo menos o prazer da merca
por um surrupiado tostão.

E então, em tuas mãos distraídas, eu deposito este Verso.

Tome-o em goles profundos, porém leves, carregue-o,
rasgue-o ou salve-o, a sentença é sua, pois, este Vinícius
agora é nosso...

“Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.”
 

domingo, 9 de abril de 2017

TARDES DE SOL AO NORTE DE ONDE NUNCA ESTIVEMOS


        



Caminhando, só, pelas ruas de Herndon
no Condado de Fairfax, em US.

Casas e gramados
e bandeiras e lixeiras americanas.
Um silêncio rompido
por poucas SUVs rodando pelas largas avenidas.

Um sol quente espia
onde campos de baseball esperam por jogadores
que não aparecerão
e por bolas que não serão rebatidas.
Não nesta tarde.

É verão americano,
o suor escorre por detrás da orelha.
Observo um trabalhador na labuta
com a sua máquina de cortar grama.
Ele desliza. O gramado perfeitamente aparado.
Eu poderia ser ele?

Sigo até um Mall, entro num fast-food,
mastigo um hot-dog aos goles de Dr. Pepper,
enquanto uma jovem senhora gorda brava
por alguma coisa.

Volto a caminhar, por onde ninguém caminha.

Uma radiopatrulha – Herndon Police Virginia - dispara
as suas sirenes azul-avermelhadas, ao passo que
o School Bus amarelo e preto retorna
com todas as crianças salvas. Uma a uma,
ordinariamente, descendo do ônibus.

Então, sob um céu azul que não se apaga,  
eu penso na obscena palavra beatnik,
em Kerouac, em toda a sua solidão.
Sua fuga para lugar nenhum.

O sol insiste. As pernas pesam.
Uma brisa leve e quente
sopra sobre um triste lago
onde almas se escondem entre reflexos irisados.

Um sentimento de liberdade afaga
o que está preso.
Intrinsecamente questiono: sinto-me ponderado
por estar distante de tudo?

Então, sem resposta, caminho
por calçadas desconhecidas,
e por onde nunca mais
caminharei.

Não há muito o que fazer.

Amanhã seguimos
para o centro do poder, 
para Washington DC. 



sábado, 1 de abril de 2017

NÃO ME INCLUA. NESSA, EU ME AUTOEXCLUÍ





Não me inclua. Os meus fantasmas não permitem.

Empoderado pela vontade, corre nas veias um sangue antigo e usado. Lá fora, lâmpadas amarelas não iluminam o nosso dia.
Uma explosão do que um dia fomos soa ainda em nossos delicados ouvidos. Chove um som de passados ao presente. Chove!

Não me inclua. Excludente sou eu.

Tudo tão perto e tão longe. Mudamos. Não será. 
Nunca será. Nunca...
Tudo modifica e altera o que um dia pensamos sólido.
Tempos e movimentos. Midiáticos maravilhosos e a suas máquinas aparelhadas. Janelas para o mundo, conectadas, se abrem em nossos smartphones. Teu irmão mais próximo. Teu amigo. Teu smartphone.

Não me inclua. Eu parto.

Limpa nuvem flutuante. Carregas bits em tuas largas avenidas.
Ontem vi a foto de hoje. Estava postada. Postergada. Largada. Amassada. Translucida. Eu vi.
Sou ainda o mesmo de ontem que hoje sou eu? Eu.

Não, não, não me inclua. Deixe-me aqui.

Social rede sou eu. Enquanto todos serão presos. As tornozeleiras rodeando os tornozelos do amanhã.
Pós-verdade é o tema. Não teima. É.
No tempo em que flores da Amazónia rastejam pelo último verão. No tempo em que toda as tristeza de Noll já se foi. 

Não me inclua. Não agora.

Onde está teu (nosso) emprego? função?
Dias correm pelo córrego e molham lágrimas em tua face.
O nosso novo cotidiano desafia a nossa nobre carne.
Uma pressão no meu peito. Ausência.
Uma parte diz sim, outra grita não.
Tudo não passa dum pequeno e profundo
copo de polémicas?

Não me inclua. Que saudade, hoje, tenho de você!

A noite devagar dobra sobre o agora.
Um subsolo de diferentes registros ocupa nosso espaço. 
Minutos cabulam horas sobre os ponteiros enferrujados dum relógio.
Essa cidade sobre os meus pés, insiste. Os calos doem.
Devagar, devagar, devagar...
Estamos quase lá.