quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

SOMOS


Somos a soma de nossos erros,
uma subtração contínua,
uma dor permanente,
uma angústia,
um som que dispara alarmes,
uma pontada localizada
ao norte de lugar nenhum,
um calor que sobe
e um frio que desce,
e amanhã será outro dia,
e o mar estará lá afinal,
e o sol nos renovará,
e quem sabe,
quem sabe,
quem sabe


Somos vítimas dos dias
e eles passam por nós
contando nos dedos
as poucas novidades
que a rotina nos esconde
e o céu é azul e negro e cinza
e triste, e vivemos
como se amanhã
tudo ao longe chegasse perto
e somos assim frondosos,
dia após dia
e nos viramos para o lado,
e olhamos para frente
esperando
um pouco mais
de sol


Não é a meta
é o que nos tornamos
em busca da meta

Não é quanto caminhamos
mas quanto vivemos
ao longo da caminhada

Não é você
somos nós


E não esqueça,
dance, dance, dance... 



quinta-feira, 5 de julho de 2018

E SE VAI O QUE TÍNHAMOS




Pedaços de mim
que um dia
deixei de cantar,
pardal escuro
que pousa
e repousa
no teu sono,
dores amores
suores da mente,
e a leveza de carregar
tudo isso
para outro lugar


Corpo corroído
coração de tempestade
e o som, o som
rufando notas desbotadas
de algo mais 


Fragmentos
que não se unem,
pedaços descalços
de uma vida percorrida,
um passado presente
amanhã e agora,
meu chão, tua mão,
nosso colo, você...

E se vai o que tínhamos,
permanece e persiste
a fé em algo mais
que não se vê,
nossa Mãe
é o calor do dia
e o beijo em nossa face
Ecos de um outro inverno,
trazem lembranças de quem
me ensinou quase tudo...
Não me ensinou a viver
sem Ela
Assim, digo a mim mesmo,
fica, fica, fica...
logo logo nosso sol
outra vez
regará
teus girassóis!

 

domingo, 15 de abril de 2018

EU VERSO O VERSO PRA TUA UTÓPIA




*
Um final de tarde
cor de abóbora
Um crepúsculo
angustiante
Uma criança grita lá fora
como um trovão que chora
E a noite dobra pra além
de lugar algum
E o tempo escorre
como lágrimas
em um rosto
E tudo é tomado
por um silêncio
que se afasta
lentamente
pelos prados
de outrora...
E nada, nada mais,
se sente presente
E por fim
a ausência
do sentido
toma conta
de tudo


*
Agora
que as horas
se foram,
restou o que?
O esquecimento
de se existir?
Um olhar
que me fita?
Teu semblante
eternizado
amanhã?
Nada disso,
porém as horas
as horas
essas
se foram


**

Não sou
de esquerda
não sou
de direita
não gosto
dos extremos
e não simpatizo
com o centro
minha posição política
é utópica
ser apolítico
ainda assim
respeito
teu lado
logo
respeite o meu
afinal
admiro o forte
mas torço
pelo fraco
enfim
atiro em todos
e morro
atirando
amém


***
O céu
está coberto
por um lençol de estrelas
lavadas por grossos pingos
de uma duvidosa chuva

Amanhã: mais
ou menos 1 dia?

Seja direita
seja esquerda
seja centro
não importa
nossa força abalada
momentaneamente
nunca desistirá de mostrar
resiliência e fé

e o que será
não deverá ser nada
diferente do que já é
ou fomos
ou somos

e continuaremos seguindo
dia após dia
desavisados e ingênuos
como sempre
daquilo
que nunca
poderia ter sido


****
Naqueles domingos
ao sul de um certo lugar
em que se fazia o Folar
em que o sol generosamente
dobrava para os girassóis
em que a Páscoa era Páscoa
o Coelhinho de pão de mel
e os Ovos recheados de amendoins
naqueles domingos na distante
Vila Ipiranga, Viamão
ou Sta Terezinha
naqueles domingos parados
pelo tempo
em volta da mesa
rodeados pelo amor
ao lado dela do pai e das irmãs
e aquecidos pela fé
naqueles domingos
onde seu sorriso
era o conforto
e a segurança
de uma vida inteira
aquele menino
aquela mãe
e aqueles domingos
que jamais retornarão e que
jamais serão esquecidos
aqueles domingos
aqueles


*****
Enquanto sou pouco
faço mais versos
Eu faço versos
para que a vida
seja mais
Eu verso mais
pelo pouco
que me encontro
Pois a angústia,
essa coisa
que explode
em concreto e ferro,
salva no peito
versos encerrados
em mim
Eu faço versos
para que leias versos,
para que possa
te encontrar
entre palavras,
para que
para ti
e para nós,
para que sejas
ou talvez não,
ou simplesmente
para que a vida
roubada
em um fulgaz poema
não possa limitar
a palavra que sonha

 

terça-feira, 20 de março de 2018

NOITES NEGRAS DE UM PRESENTE RECENTE & ESQUECIDO



*

Um presente
passado
um futuro
de anos atrás
um retorno, uma dialética
um escutar
de passos arrastados
um passar
de dias alongados
um amargar derrotas
um escutar
ventanias e desesperos
um leve grito
de tua ausência
& as andorinhas voam
para um mundo
distante
daqui


**

Eu abro um livro
e as palavras escorrem
pelo chão,
eu choro,
eu pingo estrelas
em meus olhos
para disfarçar a tristeza

mas não há
muito por fazer

então espero
por mais um dia
onde reiniciaremos a vida,
escondendo de nós
essa torrente
de relógios
esquecidos...


***

Às vezes me vejo
olhando o retrovisor: aquela
rua distante de Livramento,
o fogão a lenha na cozinha,
as tardes vagas
na Casa de Cultura Mario Quintana, 
a Lancheria do Parque,
a Portuguesa vendendo
castanhas em Moraes,
os pombos
do Largo do Machado,
a neve em Nova York,
as noites
no Little Darling...
e os poemas, os poemas
que deixei
em todos esses lugares
como barquinhos
de papel
navegando
pelo tempo...


****

O Sistema
executou Marielle
O mesmo dedo
que agora investiga o caso
puxou o gatilho?
É negra a noite lá fora
Neste faroeste urbano
roubaram o Sol do PSol
Segue Marielle
Cala Marielle
Morre Marielle
Tudo há de passar
Mas tua luta
há de ficar!
 


*****  

Um vento negro
dobra as esquinas
da tristeza onde
sopram passados
esquecidos por nós


Caminhando e cantando
nos perdemos da canção


Hoje tropecei em outro
pássaro morto
 

Amanhã já não sei
o que será


Triste Elle
que apagou Marielle
Apaguem a luz, vamos dormir,
Perdemos outra vez...