quarta-feira, 30 de novembro de 2016

UM TRISTE ACORDAR



“A vida continua.
Certas coisas que pareciam mortas
estão agora vivas ou, pelo menos, mexem-se.
Ausentes, dominam-nos.
não é para nós que utilizam palavras,
que insistem,
não é para nós!
Estes grandes ornamentos, estes sábios discursos
fluem em visões, em ondas, como se não no presente.
Ter-se-á o presente extinguido?
A vida continua tão improvavelmente.”
António Ramos Rosa

Um triste acordar dum 
triste dia

Um amanhecer esmeralda, 
pútrido. 

Distante de mim,
uma Dor se aloja. 

Um vazio  álamo 
constrói pontes. 

E, eu já não sei mais 
- como antes soubesse - 
para que lado seguir...

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

UM A CADA MILHÃO






Meu amor eu gostaria de escrever para você o poema definitivo.  

Um poema que matasse a sede como um gole dágua bebido no escuro da madrugada.  

Um poema que gemesse como um pobre animal palpitando ferido.  

Um poema sem outra angústia que não a sua misteriosa condição de poema, triste, solitário, único, ferido de mortal beleza.  

Tão lindo que só poderia ser lido dançando.  

Um poema solto e livre como uma pedra largada no indizível infinito. 

Um poema que assassinasse o poeta e que te matasse de amor. E que chegasse até você como um trovão para moer teu cérebro, para retalhar tuas coxas.

Um poema para dilapidar a riqueza de tua juventude e incinerar teu coração de carne.

E de tuas cinzas fabricar a substância enlouquecida das belas cartas de amor.