sábado, 1 de abril de 2017

NÃO ME INCLUA. NESSA, EU ME AUTOEXCLUÍ





Não me inclua. Os meus fantasmas não permitem.

Empoderado pela vontade, corre nas veias um sangue antigo e usado. Lá fora, lâmpadas amarelas não iluminam o nosso dia.
Uma explosão do que um dia fomos soa ainda em nossos delicados ouvidos. Chove um som de passados ao presente. Chove!

Não me inclua. Excludente sou eu.

Tudo tão perto e tão longe. Mudamos. Não será. 
Nunca será. Nunca...
Tudo modifica e altera o que um dia pensamos sólido.
Tempos e movimentos. Midiáticos maravilhosos e a suas máquinas aparelhadas. Janelas para o mundo, conectadas, se abrem em nossos smartphones. Teu irmão mais próximo. Teu amigo. Teu smartphone.

Não me inclua. Eu parto.

Limpa nuvem flutuante. Carregas bits em tuas largas avenidas.
Ontem vi a foto de hoje. Estava postada. Postergada. Largada. Amassada. Translucida. Eu vi.
Sou ainda o mesmo de ontem que hoje sou eu? Eu.

Não, não, não me inclua. Deixe-me aqui.

Social rede sou eu. Enquanto todos serão presos. As tornozeleiras rodeando os tornozelos do amanhã.
Pós-verdade é o tema. Não teima. É.
No tempo em que flores da Amazónia rastejam pelo último verão. No tempo em que toda as tristeza de Noll já se foi. 

Não me inclua. Não agora.

Onde está teu (nosso) emprego? função?
Dias correm pelo córrego e molham lágrimas em tua face.
O nosso novo cotidiano desafia a nossa nobre carne.
Uma pressão no meu peito. Ausência.
Uma parte diz sim, outra grita não.
Tudo não passa dum pequeno e profundo
copo de polémicas?

Não me inclua. Que saudade, hoje, tenho de você!

A noite devagar dobra sobre o agora.
Um subsolo de diferentes registros ocupa nosso espaço. 
Minutos cabulam horas sobre os ponteiros enferrujados dum relógio.
Essa cidade sobre os meus pés, insiste. Os calos doem.
Devagar, devagar, devagar...
Estamos quase lá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário