sábado, 25 de junho de 2016

LEVAMOS O QUE CONSEGUIMOS PEGAR



          


 














Invariavelmente penso nisso. 

O que fazer do que não estamos fazendo?

Penso na Arte. Mas a Arte nunca no vai nos tirar daqui.

Então penso em Laranjeiras, no Rio, naqueles belos dias amarelos de sol. 

Eu costumava gostar daquela caminhada de domingo por Laranjeiras, enquanto os anos vão passando sobre o óbito do tempo.

Às vezes fecho os olhos por instantes - eu acredito em viagem no tempo - então retorno lentamente...

De volta a Laranjeiras. 

Venho caminhando pelas Laranjeiras. O belo Parque Guinle as minhas costas. O sol se erguendo contra o lindo palacete neoclássico.

Atravesso a praça com os pombos em meio a sujeira, as barracas de flores, de livros, e os pivetes.

Escuto os barulhos do dia.      

Atravesso o Largo do Machado. Que não é do Assis é do machado de madeira do antigo açougue que ali existia.

Mais a direita, o Café Lamas, fundado há mais de um século, e frequentado pelo Niemeyer, Portinari, Manuel Bandeira, entre outros.

Mais a esquerda a Rua Paissandu, ornamentada com suas palmeiras-imperiais.

Sigo em direção ao aterro. O sol quente e úmido ofuscando os olhos, suando lágrimas pelo corpo.

Alcanço a praia do Flamengo. Corpos jogando futvôlei, outros exposto em demasia ao sol a pino.

Minhas pernas firmes trabalhando no calçadão. Minha higiene mental entre o vago e o pensamento.

Pego a direção da enseada de Botafogo. A bela vista do Pão de Açúcar, esplêndida a frente dos olhos.

A passos largos ganho o contorno da baía, os pequenos veleiros sujeitos a maré baixa.

Faço o retorno e enfrento o vento quente, além de milhares de carros zunindo seus motores poluídos contra mim.

Encontro o Belmonte em meio a barris de chope. Dois ou três chopes tirados na medida certa. O gelado daquilo garganta abaixo.

Permaneço em pé na calçada misturado aos cariocas discutindo o futebol de domingo.

Tudo está descrito na simplicidade da vida. Em sua linguagem visual. 

Retorno vagarosamente. Alcanço o Largo em direção a Marquesa de Santos.

Localizo o prédio onde moro, subo dois lances para o Play. Encontro meu filho brincando na piscina com seus amigos também brincado na piscina.

Seus pequenos olhos inocentes me alcançam.

Então sigo ao encontro dele e dou-lhe um beijo e um apertado abraço.

Isso tudo se dissipa como lembranças esquecidas num velho baú da eternidade.

Retorno ao agora. Onde o solstício chegou, e se foi.

Na noite mais longa do hemisfério Sul, pousou o inverno.

Que traga ventos fortes. Soprando todos os nossos sonhos na direção do possível.

E se assim não for, que não seja.

Afinal, logo, logo, a primavera nos brindará flores.


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