domingo, 26 de junho de 2016

ABANDONEI O POEMA MIL VEZES E RETORNEI A ELE MIL E UMA






Invariavelmente me perguntam porque Poema?

Poema afinal é a forma mais curta e direta de dizer o que você quer dizer.

Em poucas linhas você diz tudo. Você expoe víceras e sentimentos imprimindo palavras. Não é para ser entendido. É para ser sentido. Como um quadro não pintado, mas escrito. 

Ou é algo assim. Ou eu não sei a resposta. Tanto faz. Já escrevo Poemas a mais de uma trinca de décadas.

É como essa frase-título, que é de um antigo poeta, o qual já não lembro mais o nome. Para mim ela diz tudo em apenas uma linha.

A arte escrita é capaz de estimular a consciência a partir da percepção, emoções e ideias. Afasta o marasmo e cria sentido.    

Eu era jovem ainda, e meu mundo também, quando o Mario Poeta me apresentou Arthur Rimbaud.

“Leve com você. Leia. Tome atenção. Ele é perigoso.”

Nas minhas mãos UMA TEMPORADA NO INFERNO E ILUMINAÇÕES.

O iconoclasta Rimbaud, o maior poeta rebelde de todos os tempos.

A estrela da literatura francesa que modificou a poesia no mundo, escrevendo somente até os 20 anos. O poeta maldito que inventou a prosa-poética. A última palavra do desespero. 

Aquele que fugiu para África e tornou-se andarilho, traficante de armas e mercador de escravos. E que, por fim, finaliza a sua caminhada, morrendo aos 37 anos, com uma perna amputada, negando que tenha sido o famoso Rimbaud, poeta da França.

Naquela noite fria de inverno, na Cidade Baixa, em POA, eu não imaginava que Rimbaud fosse tudo isso. Pura ignorância.

Ao princípio, era apenas um exercício. Escrevia silêncios, anotava o inexprimível. Captava vertigens. Depois, explicava os meus sofismas mágicos com a alucinação das palavras!”

“Detesto todos os ofícios. A mão na pena vale a mão no arado. Que séculos de mão. Não darei nunca a minha.”

“Uma noite, sentei a Beleza nos meu joelhos, e achei-a amarga, e injuriei-a.”

“Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. Preguei boas peças à loucura. E a primavera me trouxe o pavoroso riso do idiota.”

Frases desse calibre saltavam do livro contra mim. Devorei-o numa única noite. Li novamente, várias e várias vezes. Busquei por outras fontes e publicações. Li tudo que dele encontrei traduzido para o português. Ler em Francês? Não rola.    

Ele revelava uma escrita agressiva e surtada.

Uma angústia, uma dor, um grito, uma violência, um inconvencional, algo sofrido, desesperado e genial, que até então eu não havia conhecido.

Mario, amigo, museólogo e poeta, estava certo: Rimbaud era perigoso. Um “enfant terrible”.

Menos por sua vida errante, e mais por nos influenciar na beleza única da maldita verve poética.

Nos instigava a procurar o segredo. Assim como ele que desejava “...possuir a verdade numa alma e num corpo.”

Após isso, escrevi um caderno de poemas. PAISAGENS DE FOGO. Chupando deliberadamente um pouco do estilo difícil e inimitável de Rimbaud. O posfácio foi dedicado ao Rimbaud. Quanta pretensão.

Imprimi algumas cópias. Dei a vários amigos, e não fiquei com nenhuma para mim. Triste erro.

Quanto o porque dos Poemas?

Talvez seja mais fácil admitir que existem várias razões e não uma única. Talvez o acaso explique. Talvez o benefício da dúvida perdure. Não sabemos. Melhor do que questionar é afimar.

Hermenêutica a parte, fique com esse verso de Iluminações. Eu me retiro.

“É o repouso iluminado, nem febre nem langor, no leito ou no prado.  
É o amigo nem ardente nem débil. O amigo.
É a amada, nem atormentadora nem atormentada. A amada.
O ar e o mundo de modo algum buscados. A vida.
Era então isso? E o sono refresca.”


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