então encerro mais uma primavera
nesta carreira chamada vida
sim ainda há uma criança aqui
em algumas partes de mim
ventos antigos sopram no litoral
de nossas mentes
posso retornar há anos atrás
- anos 70 -
e enxergar-me em frente a nossa casa
ansioso esperando
o caminhão de uvas subindo do Sul de Bento
para então esmagá-las no moedor
de madeira a manivela
de madeira a manivela
e produzir o vinho de todo ano
ao lado do Casimiro
eu não era menos criança do que sou hoje, era?
por certo alguma coisa mudou de lá pra cá
não o sorriso do mundo
esse não
esse segue torto
talvez a ausência de algo em mim
a dinâmica cotidiana das coisas
o cheiro das coisas
o frescor do vendo
a umidade e a chuva
que já não existem mais
que já não existem mais
perdemos o conceito
acredito
não a fé
ou a determinação
todos aqueles dias
fazendo sombra
as manobras diárias de hoje
o valor das coisas
não está no tempo em que ocorreram
e sim intensidade com que aconteceram
e sim intensidade com que aconteceram
afinal celebremos todas as crianças em nós
o que aconteceu com elas?
o que aconteceu comigo?
corre um frio de anos por aqui...
as uvas, o vinho, as abelhas,
o verão e o inverno e a primavera,
e então novamente
é primavera
Nenhum comentário:
Postar um comentário