sábado, 14 de maio de 2016

NO OUTSIDE DE SANTIURIS






Eu estava lá fora no outside. 

Muitas e muitas remadas adentro em uma praia esquecida no sul do país.

O mar marrom escurecido pelas algas balançava como um velho filme de terror. O Swell era violento. O céu cinza encoberto por nuvens. O nordestão arrastando frio para dentro da alma.

Então a maior delas me apanhou pelo meio. Ainda pude escutar o estouro e o turbilhão me forçou para baixo.

As nervosas águas do inverno mostravam sua face.

Senti um tremendo puxão na perna dado pela cordinha que me ligava a prancha. Senti o vazio da prancha me deixando.

Agora, era só eu e o mar revolto.

Ondas quebrando sobre mim como um maldito castigo antigo. 

Nadei como uma fera apavorada. E quanto mais nadava mais não saia do lugar.

Os braços jovens tentando. A correnteza era algo desumano. Era jogo perdido. Não poderia ser. A total falta de razão tomou conta de mim. A hora do pavor chegou.

Comecei a chorar. A falar com Ele. “meu Deus será hoje então o dia?”

Eu me achava tão bom naquilo. Acabaria assim. Tão pouco eu havia feito até ali. O céu escurecia sobre minha cabeça. Vamos lá, não é possível.

Então parei de tentar. Não há explicação plausível para determinadas coisas da vida. Uma nesga de sol apareceu.

Deixei a corrente contrária me levar. Deixei que a natureza fizesse o seu papel. Aquilo fez com que eu saísse do buraco vago em que havia caído.

Enxerguei a praia vazia. A areia da praia. As ondas em direção a ela.

Apontei os braços. Estava novamente nadando em direção a praia. Progredia finalmente. Alcancei o fundo de areia. Os pés sobre a areia gelada. A água batendo no peito. Ergui o corpo.

Sai andando e soluçando. Finalmente peguei um jacaré que acabou por me deixar estendido na areia da praia.

(Sim deu certo. Afinal, estou aqui com os dedos batendo nas teclas.)

Sentei. Olhei ao redor buscando pela prancha. Nada.

Ao longe alguém trazia no braço uma prancha. Quando se aproximou percebi que era a minha.

“Rapaz, como você conseguiu sair daquilo?” Disse o senhor, dono de um rosto castigado.

Baixei a cabeça e cuspi água salgada.

Entregou-me a prancha. Colocou-a no chão ao meu lado. Seguiu seu caminho. Nunca mais vi aquele rosto.

O pouco sol que havia desceu para além dos cômoros de areia de Santiuris. O final de tarde se anunciava.

Veio-me a cabeça a frase “A coragem conduz às estrelas, o medo à morte!’’ dita certa vez por alguém.

Não havia muito o que fazer. A não ser a coisa certa.

A cordinha de uretano verde rompida ao meio. Eu precisava fazer. Ou não faria nunca mais.

Amarrei com o que parecia ser um nó forte as duas pontas da cordinha. Uni a perna a prancha novamente.

Fiquei de pé. Olhei para o mar raivoso.

E entrei novamente. 

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