sábado, 21 de maio de 2016

ALMA NEGRA



   








Bebíamos vagarosamente esse vinho 
no Cabaña La Lilas. Curtíamos o belo visual do Puerto Madero. Comíamos Bifes de Chorizo.

De tão maravilhoso que  é 
costumo  dizer 
que existe algo acima
e algo abaixo
e que o meio, o meio, 
é preenchido pelo Alma Negra.

O filho do homem preparou um corte secreto
e batizou-o de Mistério.

Foram duas garrafas misteriosas
garganta abaixo.

A carne vermelha contrastando com a coloração rubi intensa do vinho. 

Um espaço atemporal onde o prazer não se revela, nem as castas utilizadas e nem a proporção do Blend.   

A brisa natural que percorria o Rio e o tímido Sol pedia mais. 

Então, diante de uma rigorosa espontaneidade, sugeri o Gran Café Tortoni. 

Eu sei onde fica. Apontei e seguimos a direção do meu dedo.

Caminhamos e caminhamos e caminhamos  
mais e de novo.

Você sabe não é? O vinho. E nada do Gran Café Tortoni.

Alcancei o Guarda de rua, e ele apontou
para o lado contrário.

Então, todos ficaram boquiabertos 
quando correndo atravessei a longa avenida, 
e parado, braços abertos, feito uma cruz, 
forcei o motorista a brecar violentamente o táxi.

Cento e cinquenta anos de Café Tortoni. 

Primeiro a fila na porta. Depois, você é mental-transportado para uma outra época.

Algo mais nobre e digno, a principio. Algo perdido não no tempo mas nas palavras de Borges.

''Morrerei e comigo irá a soma do intolerável universo."  

O fantasma de Carlos Gardel tocando seu tango. O pequeno teatro escada abaixo. As maravilhosas Medialunas. O café cortado. Os amigos.

Contendo a alma, fomos reduzidos ao silêncio.

Eu pouco sei sobre a mão de Deus de Maradona.

Mas te garanto, ou quase, 
existe Mistério
se o vinho for Alma Negra.



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